Rastreio auditivo mais fácil.
O Serviço de Obstetrícia do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, começou a fazer o rastreio auditivo aos recém-nascidos com nova tecnologia e, de 1 de Julho a 10 de Novembro, foram rastreados 697 recém-nascidos. Destas crianças, apenas uma se encontra sob vigilância a efectuar exames para apurar se tem ou não algum problema na audição.
Estes resultados vêm ao encontro dos dados da Sociedade Portuguesa de Pediatria, que revelam que a incidência da perda bilateral auditiva significativa – surdez relativa aos dois ouvidos –é estimada em um a três por mil recém-nascidos saudáveis e em 20 a 40 por cento dos recém-nascidos de risco, sendo diagnósticos muito superiores a de outras patologias, também elas alvo de rastreio precoce sistemático.
Desde Julho que o rastreio auditivo aos recém-nascidos do Serviço de Obstetrícia daquele hospital passou a ser mais fácil, sendo feito através de um aparelho de detecção de otoemissões acústicas, oferecido pela Liga dos Amigos do Hospital do Barreiro.
Luís Miranda, enfermeiro da Unidade de Obstetrícia e um dos profissionais responsáveis pelo rastreio auditivo, explica: “Antes de termos o aparelho fazíamos o rastreio auditivo, mas agora passou a ser mais fácil. Todas as crianças em situação de risco são encaminhadas para a especialidade de otorrinolaringologia para se chegar a um diagnóstico.”
A técnica audiologista Anabela Pestana explica que, por vezes, o recém--nascido pode ter o canal auditivo sujo com secreções do parto, dificultando o resultado do exame. “Essas secreções acabam por sair ou ser absorvidas pelo organismo, sendo possível apurar se a criança tem algum problema auditivo.” Segundo a técnica, o teste é fácil, rápido e não-invasivo, mas só possível quando o bebé está calmo, pois há que introduzir a sonda no canal auditivo.
CRIANÇAS SÃO ACOMPANHADAS POR ESPECIALISTAS
O rastreio auditivo e consequente acompanhamento clínico das crianças é feito por uma equipa multidisciplinar que inclui especialistas em otorrinolaringologia, pediatras, técnicos de audiologia e enfermeiros especialistas em obstetrícia. 'É indispensável e essencial a multidisciplinaridade no acompanhamento destes casos e aqui, no Hospital Nossa Senhora do Rosário, temos uma boa equipa, empenhada, que todos os dias assegura o rastreio auditivo a todos os recém-nascidos', assegura Ribeiro Mendes, responsável da Unidade de Otorrinolaringologia.
LIGA OFERECE DONATIVOS
O aparelho Echoscreen, que permite efectuar o rastreio auditivo aos recém-nascidos, através da detecção de otoemissões acústicas, foi oferecido ao Hospital Nossa Senhora do Rosário pela Liga dos Amigos do Hospital do Barreiro. O aparelho custou cerca de 4000 euros. Vítor Munhão, presidente da direcção, salienta que os donativos são possíveis através dos apoios do mecenato. 'Já temos contribuído com equipamento e material e ajudamos os doentes mais carentes.'
VACINAS PODEM EVITAR DEFICIÊNCIAS
Os especialistas afirmam que as vacinas evitam a deficiência auditiva. No entanto, existem causas desconhecidas e outras conhecidas da ciência que provocam este problema. De entre os factores de risco que levam à falta de audição contam-se as infecções adquiridas pela mulher durante a gravidez. As infecções mais graves são a rubéola, sífilis, herpes, toxoplasmose ou a infecção provocada pelo vírus citomegalovírus. Nascer com baixo peso (menos de 1500 gramas) também contribui para a surdez. As doenças da infância (sarampo, tosse convulsa, papeira) podem também contribuir para surdez.
SAIBA MAIS
CENTRO NACIONAL
O Serviço de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar de Coimbra é onde se situa o centro nacional de implantes cocleares.
700
pessoas com surdez são associadas da Associação Portuguesa de Surdos, que conta com intérpretes de Língua Gestual no apoio aos utentes.
84 172
é o número de deficientes auditivos em Portugal, segundo números de 2001 do Instituto Nacional de Estatística.
EXCLUÍDOS
Em Portugal, os surdos são excluídos da vida religiosa devido à inexistência de intérpretes nas igrejas ou de padres que saibam linguagem gestual.
DISCURSO DIRECTO
'O BAIXO PESO PODE CAUSAR SURDEZ', João Ribeiro Mendes, Unidade de Otorrinolaringologia do Hospital de Nossa Senhora do Rosário
Correio da Manhã – Quando é que um bebé deve fazer o rastreio auditivo?
João Ribeiro Mendes – 0 rastreio deve ser feito 48 horas após o nascimento e antes da alta clínica.
– Quais são as causas da surdez infantil?
– Há várias causas que contribuem para a perda ou diminuição da capacidade auditiva da criança. As situações de risco são o baixo peso, ou seja, a criança nascer com um peso abaixo dos 1500 gramas, ser prematura – ter nascido antes do termo da gestação –, ter antecedentes familiares de deficiência auditiva ou ainda quando acontece uma situação de icterícia neonatal.
– O que acontece aos casos mais complicados?
– As crianças que necessitam ser submetidas a uma intervenção cirúrgica para receber um implante coclear são encaminhadas para o Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa.
– Que consequências tem um problema auditivo para o desenvolvimento de uma criança?
– A perda da capacidade auditiva durante a infância interfere no bom desenvolvimento da linguagem e na qualidade da verbalização.
O MEU CASO: FELIPA ALMEIDA
'TUDO BEM COM A FELIPA'
Felipa nasceu dia 9 de Novembro de 2009, com 2,9 quilos, cinco horas depois de a mãe, Liliana Almeida, 30 anos, ter dado entrada na Urgência de Obstetrícia, no Barreiro. Dois dias depois fez o rastreio auditivo. Enquanto dorme, a técnica audiologista Daniela Monteiro introduz a sonda na entrada do ouvido da pequena Felipa. Estranha o zumbido do aparelho e remexe-se na cama, sem abrir os olhos. 'Vê--se que está atenta e a tentar perceber o que lhe está a acontecer, e essa atenção significa que a criança está a ouvir bem', explica a técnica Daniela Monteiro. O rastreio auditivo termina com o esperado resultado: 'Não há alterações, está tudo bem com a audição da Felipa.'
PERFIL
Liliana Almeida, de 30 anos, é sargento electricista na Marinha, tal como o seu marido, Arlindo Almeida, de 30. Foi na Marinha que se conheceram e apaixonaram. Agora foram pais pela primeira vez, de Felipa, que nasceu a 9 de Novembro, no Barreiro. A família vive feliz no Pinhal Novo, em Palmela.
IMPLANTES NO CRÂNIO
Algumas crianças surdas profundas podem ser operadas para a colocação de um implante coclear, que fica na cabeça.
MÚSICA ALTO A EVITAR
Os especialistas alertam que estão a aumentar os casos de surdez entre os jovens por ouvirem música muito alto.
PREMATUROS SURDOS
Os bebés que nascem antes do termo da gestação ou com um peso muito baixo têm maior risco de nascer surdos.
Cristina Serra
Correio da Manhã
O Serviço de Obstetrícia do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, começou a fazer o rastreio auditivo aos recém-nascidos com nova tecnologia e, de 1 de Julho a 10 de Novembro, foram rastreados 697 recém-nascidos. Destas crianças, apenas uma se encontra sob vigilância a efectuar exames para apurar se tem ou não algum problema na audição.
Estes resultados vêm ao encontro dos dados da Sociedade Portuguesa de Pediatria, que revelam que a incidência da perda bilateral auditiva significativa – surdez relativa aos dois ouvidos –é estimada em um a três por mil recém-nascidos saudáveis e em 20 a 40 por cento dos recém-nascidos de risco, sendo diagnósticos muito superiores a de outras patologias, também elas alvo de rastreio precoce sistemático.
Desde Julho que o rastreio auditivo aos recém-nascidos do Serviço de Obstetrícia daquele hospital passou a ser mais fácil, sendo feito através de um aparelho de detecção de otoemissões acústicas, oferecido pela Liga dos Amigos do Hospital do Barreiro.
Luís Miranda, enfermeiro da Unidade de Obstetrícia e um dos profissionais responsáveis pelo rastreio auditivo, explica: “Antes de termos o aparelho fazíamos o rastreio auditivo, mas agora passou a ser mais fácil. Todas as crianças em situação de risco são encaminhadas para a especialidade de otorrinolaringologia para se chegar a um diagnóstico.”
A técnica audiologista Anabela Pestana explica que, por vezes, o recém--nascido pode ter o canal auditivo sujo com secreções do parto, dificultando o resultado do exame. “Essas secreções acabam por sair ou ser absorvidas pelo organismo, sendo possível apurar se a criança tem algum problema auditivo.” Segundo a técnica, o teste é fácil, rápido e não-invasivo, mas só possível quando o bebé está calmo, pois há que introduzir a sonda no canal auditivo.
CRIANÇAS SÃO ACOMPANHADAS POR ESPECIALISTAS
O rastreio auditivo e consequente acompanhamento clínico das crianças é feito por uma equipa multidisciplinar que inclui especialistas em otorrinolaringologia, pediatras, técnicos de audiologia e enfermeiros especialistas em obstetrícia. 'É indispensável e essencial a multidisciplinaridade no acompanhamento destes casos e aqui, no Hospital Nossa Senhora do Rosário, temos uma boa equipa, empenhada, que todos os dias assegura o rastreio auditivo a todos os recém-nascidos', assegura Ribeiro Mendes, responsável da Unidade de Otorrinolaringologia.
LIGA OFERECE DONATIVOS
O aparelho Echoscreen, que permite efectuar o rastreio auditivo aos recém-nascidos, através da detecção de otoemissões acústicas, foi oferecido ao Hospital Nossa Senhora do Rosário pela Liga dos Amigos do Hospital do Barreiro. O aparelho custou cerca de 4000 euros. Vítor Munhão, presidente da direcção, salienta que os donativos são possíveis através dos apoios do mecenato. 'Já temos contribuído com equipamento e material e ajudamos os doentes mais carentes.'
VACINAS PODEM EVITAR DEFICIÊNCIAS
Os especialistas afirmam que as vacinas evitam a deficiência auditiva. No entanto, existem causas desconhecidas e outras conhecidas da ciência que provocam este problema. De entre os factores de risco que levam à falta de audição contam-se as infecções adquiridas pela mulher durante a gravidez. As infecções mais graves são a rubéola, sífilis, herpes, toxoplasmose ou a infecção provocada pelo vírus citomegalovírus. Nascer com baixo peso (menos de 1500 gramas) também contribui para a surdez. As doenças da infância (sarampo, tosse convulsa, papeira) podem também contribuir para surdez.
SAIBA MAIS
CENTRO NACIONAL
O Serviço de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar de Coimbra é onde se situa o centro nacional de implantes cocleares.
700
pessoas com surdez são associadas da Associação Portuguesa de Surdos, que conta com intérpretes de Língua Gestual no apoio aos utentes.
84 172
é o número de deficientes auditivos em Portugal, segundo números de 2001 do Instituto Nacional de Estatística.
EXCLUÍDOS
Em Portugal, os surdos são excluídos da vida religiosa devido à inexistência de intérpretes nas igrejas ou de padres que saibam linguagem gestual.
DISCURSO DIRECTO
'O BAIXO PESO PODE CAUSAR SURDEZ', João Ribeiro Mendes, Unidade de Otorrinolaringologia do Hospital de Nossa Senhora do Rosário
Correio da Manhã – Quando é que um bebé deve fazer o rastreio auditivo?
João Ribeiro Mendes – 0 rastreio deve ser feito 48 horas após o nascimento e antes da alta clínica.
– Quais são as causas da surdez infantil?
– Há várias causas que contribuem para a perda ou diminuição da capacidade auditiva da criança. As situações de risco são o baixo peso, ou seja, a criança nascer com um peso abaixo dos 1500 gramas, ser prematura – ter nascido antes do termo da gestação –, ter antecedentes familiares de deficiência auditiva ou ainda quando acontece uma situação de icterícia neonatal.
– O que acontece aos casos mais complicados?
– As crianças que necessitam ser submetidas a uma intervenção cirúrgica para receber um implante coclear são encaminhadas para o Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa.
– Que consequências tem um problema auditivo para o desenvolvimento de uma criança?
– A perda da capacidade auditiva durante a infância interfere no bom desenvolvimento da linguagem e na qualidade da verbalização.
O MEU CASO: FELIPA ALMEIDA
'TUDO BEM COM A FELIPA'
Felipa nasceu dia 9 de Novembro de 2009, com 2,9 quilos, cinco horas depois de a mãe, Liliana Almeida, 30 anos, ter dado entrada na Urgência de Obstetrícia, no Barreiro. Dois dias depois fez o rastreio auditivo. Enquanto dorme, a técnica audiologista Daniela Monteiro introduz a sonda na entrada do ouvido da pequena Felipa. Estranha o zumbido do aparelho e remexe-se na cama, sem abrir os olhos. 'Vê--se que está atenta e a tentar perceber o que lhe está a acontecer, e essa atenção significa que a criança está a ouvir bem', explica a técnica Daniela Monteiro. O rastreio auditivo termina com o esperado resultado: 'Não há alterações, está tudo bem com a audição da Felipa.'
PERFIL
Liliana Almeida, de 30 anos, é sargento electricista na Marinha, tal como o seu marido, Arlindo Almeida, de 30. Foi na Marinha que se conheceram e apaixonaram. Agora foram pais pela primeira vez, de Felipa, que nasceu a 9 de Novembro, no Barreiro. A família vive feliz no Pinhal Novo, em Palmela.
IMPLANTES NO CRÂNIO
Algumas crianças surdas profundas podem ser operadas para a colocação de um implante coclear, que fica na cabeça.
MÚSICA ALTO A EVITAR
Os especialistas alertam que estão a aumentar os casos de surdez entre os jovens por ouvirem música muito alto.
PREMATUROS SURDOS
Os bebés que nascem antes do termo da gestação ou com um peso muito baixo têm maior risco de nascer surdos.
Cristina Serra
Correio da Manhã