Confesso que não sou visita regular do fórum- na verdade, só utilizo o computador para pesquisa ocasional e para o correio. Mas a verdade é que também tenho um implante coclear e a Fernanda foi tão entusiástica sobre este espaço de encontro, que acho que faz sentido deixar aqui o meu testemunho.
Já me havia conformado com a minha perda auditiva e com o que isso acarretava. Conseguia ouvir sons, mas eles não faziam sentido algum. A oralidade era penosa. Um esforço constante para juntar algumas palavras “pescadas” aqui e ali, juntá-las, e fazer uma frase; sempre com uma grande dose de insegurança porque a possibilidade de erro era sempre enorme. Já para não falar daquele sentimento de culpa que teimava em permanecer, embora eu afirmasse constantemente para mim mesma que não tinha culpa daquela situação.
O condicionamento estendia-se também, como é óbvio, à vida familiar e profissional. Os episódios caricatos que aconteciam no dia-a-dia dos meus filhos, na escola, perdiam todo o humor ao serem recontados várias vezes, até eu perceber; os diálogos iam-se reduzindo ao essencial; por vezes era impossível não ficar com a impressão de que as pessoas me achavam burra! Nunca pairou sobre mim a possibilidade de despedimento porque trabalho numa empresa familiar. E se por um lado esta segurança era boa, por outro nem tanto: todos procuravam facilitar-me a vida, poupando-me às situações difíceis, o que me retirava capacidade de resolver situações.
Mas, desde há alguns anos a esta parte, sinto-me uma pessoa sortuda, privilegiada, abençoada. Apercebi-me que estava rodeada de pessoas maravilhosas, e que não era a minha diferença auditiva que me tirava valor. Sentia a vida do meu lado, a impulsionar-me! Assim, no dia 19 de Maio, quando entrei no bloco operatório para receber o IC estava radiante, super feliz e contente! Ainda recordo o mau estar das horas seguintes à operação: parecia que um grande camião tinha embatido, a toda a velocidade, em cheio no meu pequeno ouvido! A zoeira dentro da minha cabeça não cedia e eu queria tanto levantar-me (e talvez espreguiçar-me?), mas ninguém me deixava. Mas tudo era minúsculo –verdadeiramente minúsculo! - comparado com as possibilidades que se iniciavam ali!
A semana pós-activação também foi pouco agradável - o IC dava um som semelhante a uma estação de rádio mal sintonizada – constantemente! Apelei, com toda a intensidade à minha paciência – aquilo era temporário… Já passaram três semanas desde então, e tudo melhorou muito! Recuperei a audição que ainda tinha, as conversas frente-a-frente são mais fluidas, o chilrear dos pássaros tornou-se um som concreto, quando o rádio está ligado já distingo o locutor da música… as conquistas são inúmeras!
Embora devesse limitar as minhas expectativas ao momento presente, não consigo deixar de ansiar por um ganho auditivo que permita relacionar-me com os outros de forma mais plena; obter mais das situações para também poder dar mais; recuperar o sentido de humor; vencer o medo de não ser capaz…
Mas, principalmente, continuo a sentir uma imensa gratidão… pela vida boa e preenchida que tenho, com saúde, filhos lindos, ao meu marido – que é o melhor companheiro que poderia ter- ao Yoga – que tal como me fora dito, faz com que nada seja como dantes, aos médicos fantásticos que me operaram, à possibilidade de poder usufruir desta tecnologia, hoje…
O futuro está em aberto…
E este foi o meu primeiríssimo testemunho! Espero que não tenha sido uma tremenda seca! Para a próxima ficam as conquistas auditivas que hão-de vir! Fiquem bem, igualmente com conquistas auditivas!
Manuela Nunes
Já me havia conformado com a minha perda auditiva e com o que isso acarretava. Conseguia ouvir sons, mas eles não faziam sentido algum. A oralidade era penosa. Um esforço constante para juntar algumas palavras “pescadas” aqui e ali, juntá-las, e fazer uma frase; sempre com uma grande dose de insegurança porque a possibilidade de erro era sempre enorme. Já para não falar daquele sentimento de culpa que teimava em permanecer, embora eu afirmasse constantemente para mim mesma que não tinha culpa daquela situação.
O condicionamento estendia-se também, como é óbvio, à vida familiar e profissional. Os episódios caricatos que aconteciam no dia-a-dia dos meus filhos, na escola, perdiam todo o humor ao serem recontados várias vezes, até eu perceber; os diálogos iam-se reduzindo ao essencial; por vezes era impossível não ficar com a impressão de que as pessoas me achavam burra! Nunca pairou sobre mim a possibilidade de despedimento porque trabalho numa empresa familiar. E se por um lado esta segurança era boa, por outro nem tanto: todos procuravam facilitar-me a vida, poupando-me às situações difíceis, o que me retirava capacidade de resolver situações.
Mas, desde há alguns anos a esta parte, sinto-me uma pessoa sortuda, privilegiada, abençoada. Apercebi-me que estava rodeada de pessoas maravilhosas, e que não era a minha diferença auditiva que me tirava valor. Sentia a vida do meu lado, a impulsionar-me! Assim, no dia 19 de Maio, quando entrei no bloco operatório para receber o IC estava radiante, super feliz e contente! Ainda recordo o mau estar das horas seguintes à operação: parecia que um grande camião tinha embatido, a toda a velocidade, em cheio no meu pequeno ouvido! A zoeira dentro da minha cabeça não cedia e eu queria tanto levantar-me (e talvez espreguiçar-me?), mas ninguém me deixava. Mas tudo era minúsculo –verdadeiramente minúsculo! - comparado com as possibilidades que se iniciavam ali!
A semana pós-activação também foi pouco agradável - o IC dava um som semelhante a uma estação de rádio mal sintonizada – constantemente! Apelei, com toda a intensidade à minha paciência – aquilo era temporário… Já passaram três semanas desde então, e tudo melhorou muito! Recuperei a audição que ainda tinha, as conversas frente-a-frente são mais fluidas, o chilrear dos pássaros tornou-se um som concreto, quando o rádio está ligado já distingo o locutor da música… as conquistas são inúmeras!
Embora devesse limitar as minhas expectativas ao momento presente, não consigo deixar de ansiar por um ganho auditivo que permita relacionar-me com os outros de forma mais plena; obter mais das situações para também poder dar mais; recuperar o sentido de humor; vencer o medo de não ser capaz…
Mas, principalmente, continuo a sentir uma imensa gratidão… pela vida boa e preenchida que tenho, com saúde, filhos lindos, ao meu marido – que é o melhor companheiro que poderia ter- ao Yoga – que tal como me fora dito, faz com que nada seja como dantes, aos médicos fantásticos que me operaram, à possibilidade de poder usufruir desta tecnologia, hoje…
O futuro está em aberto…
E este foi o meu primeiríssimo testemunho! Espero que não tenha sido uma tremenda seca! Para a próxima ficam as conquistas auditivas que hão-de vir! Fiquem bem, igualmente com conquistas auditivas!
Manuela Nunes