Deleito-me em ouvir as subtilezas desde a activação e recordo-me nitidamente a grande viagem da reentrada ao mundo dos sons com tanta clareza o instante memorável em que o técnico J.P esboçou um riso diante do meu olhar nu, despido de um nervosismo hilariante e ao mesmo tempo sério, de expectativas e pensamentos irrequietos.
Retirara o Implante Coclear do pacote, encaixou as peças separadas, moldou o gancho do ouvido e a bobina para a unidade de processamento, a seguir deu um toque final, segurou o controlador BTE e fez rotação á unidade de processamento, estavam assim unidas num só corpo.
Mais tarde conectou o cabo que partia do computador ao processador de fala, fê-lo com uma naturalidade nunca antes encarada, e num gesto poisou o aparelho coclear na palma da minha mão, despertei como nunca, desejei e ansiei tanto por esse momento
Único, um rio de sensações indescritíveis.
O despertar das sonoridades, o de poder finalmente ouvir o mundo característico dos sons, de sentir na alma como soariam as vozes das pessoas que amo, a sonância da natureza, o piar dos pássaros, o timbre de uma gargalhada e sobretudo escutar a minha voz.
Estava rendida assim a inúmeras possibilidades, incapaz de imaginar o que me aguardava, um clamor de melodias indefinidas, é certo, fiquei ansiosa com o implante coclear já colado magneticamente ao chip interno, agarrado a mim seguro por detrás da orelha e não senti nenhum tipo de desconforto, fiquei ainda mais eloquente no seu abraço tecnológico.
À minha volta existia silêncio, a respiração suspensa, o coração bombeava a galope e pude comprovar que tudo iria mudar, sentada de punhos fechados, onde de repente um apito cintilante rompe e surgem outros, apito baixo, apito alto, apito ali e acolá continuamente.
Adiante um simples botão fora ligado! Saltei da cadeira com a explosão de ruídos dentro da minha cabeça, fervilhantes, assombrosos e no fim mergulhei de incredulidade, vozes, ouço vozes e o guincho dos passos vindos do corredor, e depois as primeiras palavras intercaladas do técnico J.P. “Consegues ouvir-me?”
Todo o meu corpo paralisou, absorta, conseguia escutar nitidamente, e questionando o quão é diferente, comparado com o uso da prótese auditiva, parecia inacreditável e cativante a energia das próprias palavras a entrar no meu novo ouvido recém-activado.
Precisei de um tempo para voltar em mim, as palavras tinham sido engolidas em seco dentro da boca, enjauladas na preciosa redescoberta dos sons, fora inundada na orgia dos mais diversos ruídos acalorados de emoção, do riso ao choro de felicidade.
Por fim, a muito custo respondi “Sim”, numa fracção de segundos escutei pela primeira vez atónita o timbre da minha voz, suave e terna, o meu interior agitara por reter todos os sons que conheci em tão pouco tempo e já era para mim uma verdadeira bênção.
A minha mãe, testemunha e espectadora de toda a minha existência, olhara-me no abismo das sensações, os lábios tremiam, a visão enchera de lágrimas a escorrer no seu rosto, era um choro de alegria.
Saí da sala de activação a ouvir, vozes misturadas, gritos de crianças, passos, o canto das cigarras e inúmeras melodias.
Um ano passou, um ano de muitas conquistas sonoras, um ano onde o telemóvel e o uso do MP3 passaram a fazer parte da minha vida, são tantos os sons que me faltam para descobrir e conhecer, saboreá-las e acolhê-las nos meus frutos com uma intensidade quase tresloucada!
Não existe mais silêncio, só na hora de embalar sonhos.
Retirara o Implante Coclear do pacote, encaixou as peças separadas, moldou o gancho do ouvido e a bobina para a unidade de processamento, a seguir deu um toque final, segurou o controlador BTE e fez rotação á unidade de processamento, estavam assim unidas num só corpo.
Mais tarde conectou o cabo que partia do computador ao processador de fala, fê-lo com uma naturalidade nunca antes encarada, e num gesto poisou o aparelho coclear na palma da minha mão, despertei como nunca, desejei e ansiei tanto por esse momento
Único, um rio de sensações indescritíveis.
O despertar das sonoridades, o de poder finalmente ouvir o mundo característico dos sons, de sentir na alma como soariam as vozes das pessoas que amo, a sonância da natureza, o piar dos pássaros, o timbre de uma gargalhada e sobretudo escutar a minha voz.
Estava rendida assim a inúmeras possibilidades, incapaz de imaginar o que me aguardava, um clamor de melodias indefinidas, é certo, fiquei ansiosa com o implante coclear já colado magneticamente ao chip interno, agarrado a mim seguro por detrás da orelha e não senti nenhum tipo de desconforto, fiquei ainda mais eloquente no seu abraço tecnológico.
À minha volta existia silêncio, a respiração suspensa, o coração bombeava a galope e pude comprovar que tudo iria mudar, sentada de punhos fechados, onde de repente um apito cintilante rompe e surgem outros, apito baixo, apito alto, apito ali e acolá continuamente.
Adiante um simples botão fora ligado! Saltei da cadeira com a explosão de ruídos dentro da minha cabeça, fervilhantes, assombrosos e no fim mergulhei de incredulidade, vozes, ouço vozes e o guincho dos passos vindos do corredor, e depois as primeiras palavras intercaladas do técnico J.P. “Consegues ouvir-me?”
Todo o meu corpo paralisou, absorta, conseguia escutar nitidamente, e questionando o quão é diferente, comparado com o uso da prótese auditiva, parecia inacreditável e cativante a energia das próprias palavras a entrar no meu novo ouvido recém-activado.
Precisei de um tempo para voltar em mim, as palavras tinham sido engolidas em seco dentro da boca, enjauladas na preciosa redescoberta dos sons, fora inundada na orgia dos mais diversos ruídos acalorados de emoção, do riso ao choro de felicidade.
Por fim, a muito custo respondi “Sim”, numa fracção de segundos escutei pela primeira vez atónita o timbre da minha voz, suave e terna, o meu interior agitara por reter todos os sons que conheci em tão pouco tempo e já era para mim uma verdadeira bênção.
A minha mãe, testemunha e espectadora de toda a minha existência, olhara-me no abismo das sensações, os lábios tremiam, a visão enchera de lágrimas a escorrer no seu rosto, era um choro de alegria.
Saí da sala de activação a ouvir, vozes misturadas, gritos de crianças, passos, o canto das cigarras e inúmeras melodias.
Um ano passou, um ano de muitas conquistas sonoras, um ano onde o telemóvel e o uso do MP3 passaram a fazer parte da minha vida, são tantos os sons que me faltam para descobrir e conhecer, saboreá-las e acolhê-las nos meus frutos com uma intensidade quase tresloucada!
Não existe mais silêncio, só na hora de embalar sonhos.
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