A Partitura Musical da Vida
Recuperar a audição após 10 anos de silêncio total é uma dádiva, mas recuperá-la com o recurso à cirurgia de implante-coclear é muito mais que isso: é um autêntico milagre da tecnologia e do esforço do homem na procura e concretização da qualidade de vida para o seu semelhante.
Se, antes de ter perdido a pouca audição que tinha, já tinha acesso ao universo sonoro com uma prótese convencional, a verdade é que com o recurso ao implante-coclear esse universo passou a estar dotado de uma clareza melódica incomparavelmente mais eficaz, o que veio ao encontro do objectivo, largamente alcançado, de reencontrar uma qualidade de vida perdida.
E se tudo o que atrás relatei foi alcançado com o recurso a um só implante-coclear, imagine-se o que é poder usar dois implantes-cocleares? – é assim como ter estado a escutar uma determinada música por um simples trio e poder vir a escutar a mesma música agora executada por uma orquestra imensa num auditório cuja acústica nos beija as faces rosadas de regozijo por mais esta dádiva.
No entanto, e é bom referir isso, é absolutamente necessário que a informação prestada ao potencial candidato a implante – seja ele uni ou bi-implantado – seja o mais clara, precisa e directa possível, não vá criar-se nele expectativas excessivas; pois que o processo de adaptação/reabilitação à nova realidade auditiva em nada se assemelha aquela que é feita a quem usa uma prótese convencional, dado que a forma e o modo como estas duas próteses – a retroauricular e o implante-coclear – fazem chegar o estímulo auditivo ao córtex cerebral são completamente diferentes, já que uma é uma mera ampliação do som junto do tímpano e a outra cria uma estimulação por impulsos electromagnéticos que implicam uma reaprendizagem do que é ouvir, sendo por isso os resultados também diferentes.
Ainda assim, dada a minha experiência de 4 anos de bi-implantado, importa dizer que o grande segredo do sucesso de todo este processo de habilitação/reabilitação de uma pessoa sujeita à cirurgia de implante-coclear reside no intenso trabalho de estimulação auditiva a que ele for capaz de se sujeitar, ouvindo música suave, rádio, áudio-livros e os sons ambientes. Tal como um pintor pinta o seu quadro com todas as cores que estão na paleta, também ouvir é muito mais que sentir os sons; é ser-se capaz de escutar o que está nas entrelinhas da partitura musical da vida.
José Pedro Amaral
in "Auduiologia em Revista"
Recuperar a audição após 10 anos de silêncio total é uma dádiva, mas recuperá-la com o recurso à cirurgia de implante-coclear é muito mais que isso: é um autêntico milagre da tecnologia e do esforço do homem na procura e concretização da qualidade de vida para o seu semelhante.
Se, antes de ter perdido a pouca audição que tinha, já tinha acesso ao universo sonoro com uma prótese convencional, a verdade é que com o recurso ao implante-coclear esse universo passou a estar dotado de uma clareza melódica incomparavelmente mais eficaz, o que veio ao encontro do objectivo, largamente alcançado, de reencontrar uma qualidade de vida perdida.
E se tudo o que atrás relatei foi alcançado com o recurso a um só implante-coclear, imagine-se o que é poder usar dois implantes-cocleares? – é assim como ter estado a escutar uma determinada música por um simples trio e poder vir a escutar a mesma música agora executada por uma orquestra imensa num auditório cuja acústica nos beija as faces rosadas de regozijo por mais esta dádiva.
No entanto, e é bom referir isso, é absolutamente necessário que a informação prestada ao potencial candidato a implante – seja ele uni ou bi-implantado – seja o mais clara, precisa e directa possível, não vá criar-se nele expectativas excessivas; pois que o processo de adaptação/reabilitação à nova realidade auditiva em nada se assemelha aquela que é feita a quem usa uma prótese convencional, dado que a forma e o modo como estas duas próteses – a retroauricular e o implante-coclear – fazem chegar o estímulo auditivo ao córtex cerebral são completamente diferentes, já que uma é uma mera ampliação do som junto do tímpano e a outra cria uma estimulação por impulsos electromagnéticos que implicam uma reaprendizagem do que é ouvir, sendo por isso os resultados também diferentes.
Ainda assim, dada a minha experiência de 4 anos de bi-implantado, importa dizer que o grande segredo do sucesso de todo este processo de habilitação/reabilitação de uma pessoa sujeita à cirurgia de implante-coclear reside no intenso trabalho de estimulação auditiva a que ele for capaz de se sujeitar, ouvindo música suave, rádio, áudio-livros e os sons ambientes. Tal como um pintor pinta o seu quadro com todas as cores que estão na paleta, também ouvir é muito mais que sentir os sons; é ser-se capaz de escutar o que está nas entrelinhas da partitura musical da vida.
José Pedro Amaral
in "Auduiologia em Revista"